PONTIFICIO COLÉGIO PIO BRASILEIRO |
Caríssimos irmãos presbíteros! A Providência Divina nos reservou uma Liturgia da Palavra, nesta finalização oficial do Ano Acadêmico, que é um retrato de nossa jornada na cidade de Roma. “Vamos para a outra margem!”. Como outrora aos seus discípulos, Jesus assim se dirigiu, um dia, a cada um de nós. Aqui viemos, para outra margem do oceano, buscando outros mares. Também enfrentamos ventanias muito fortes quando as ondas se lançavam dentro da barca, de modo que a barca já começava a se encher. Quanta tempestade em nossas mentes, ao lançar as redes para águas mais profundas de nossa experiência do amor de Deus! Quantas dificuldades! Quantos desafios! Quantas crises! O Senhor permanecia conosco, em silêncio, como que adormentado. Não poucas vezes nos dirigimos a ele com a mesma pergunta dos discípulos: “Mestre, estamos perecendo e tu não te importas?” Sim, pois aprofundar os mistérios de Deus é deixar perecer um pouco de nós... Jó vivera as inquietudes da profunda experiência de Deus. Precisou lançar sua fé para outra margem. Nessa travessia, quase se afogou nas certezas pré-estabelecidas por uma teologia de conveniências. Lutou para superar a concepção de uma teologia da retribuição e da prosperidade dos justos. Por fim, concluiu pela insuficiência da linguagem. Diante da profundidade da experiência de Deus, a mão é colocada sobre a boca para que os olhos contemplem, sem palavras, a grandiosidade do Mistério insondável. Como Jó, travamos lutas interiores, com fortes ventos e tempestades, na difícil missão de superar mentalidades distorcidas sobre a identidade de Deus, manifestada em Jesus Cristo. E o Senhor faz calar os ventos e as tempestades! É nele que encontramos repouso diante dos turbilhões de nossa existência. Sua palavra gera calmaria em nossos corações. E ele nos lança um desafio: “Por que sois tão medrosos? Ainda não tendes fé?”. Também sentimos medo de seus questionamentos e interrogamos sobre a identidade deste nosso companheiro de viagem: “Quem é este, a quem até o vento e o mar obedecem?”. Aprofundando a experiência de Deus, em nossa jornada, vamos nos dando conta de que “o amor de Cristo nos possui”. Se estamos em Cristo, somos uma criatura nova. “O mundo velho desapareceu. Tudo agora é novo”. Todo aquele que aprofunda a experiência de Deus não tem o direito de voltar para a outra margem da mesma forma. Há um enriquecimento de seu ser. Atinge-se novo estágio de humanidade! O salmista nos convida: “Dai graças ao Senhor, porque ele é bom, porque eterna é a sua misericórdia!”. Sim, o Senhor é bom! É ele que liberta da angústia aqueles que a ele gritam na aflição. Transforma a tempestade em bonança, e as ondas do oceano faz calar. Alegremo-nos ao ver o mar tranquilo e o porto desejado a que nos conduziu o Senhor. Agradeçamos a ele por seu amor e por suas maravilhas nesta difícil travessia! Vários dos que aqui se encontram, em breve, retornarão ao Brasil. Fizeram a travessia. Passaram ao outro lado e fizeram a experiência profunda do amor de Deus. Inspirados pelo Salmo 126, podem atestar que “os que lançam as sementes entre lágrimas, ceifarão com alegria. Chorando de tristeza sairão, espalhando suas sementes; cantando de alegria voltarão, carregando os seus feixes!”. Saíram da antiga e estreita margem, chorando de tristeza, incertos do que encontrariam pela frente. Mesmo assim, lançaram as sementes. Agora, cantando de alegria, retornam, carregando seus abundantes feixes, para servir às suas Igrejas Particulares, com mais propriedade. A experiência profunda do amor de Deus nos leva ao seguimento mais comprometido de Jesus Cristo, fortalecidos pela graça do Espírito Santo. Nesta ação de graças, ao elevarmos, entre o céu e a terra, o Corpo e o Sangue de nosso único Mediador, convido os irmãos presbíteros a rezarem juntos – como a liturgia permite aos concelebrantes, soto voce –, reconhecendo que tudo, absolutamente tudo que experimentamos nesta difícil travessia, é “por Cristo, com Cristo e em Cristo” e elevamos ao “Pai Todo Poderoso, na unidade do Espírito Santo, toda honra e toda glória, agora e para sempre”. |