Roma, 30 de setembro de 2014.


Homilia na transição da Direção do Colégio Pio Brasileiro – Roma



Eminentíssimos Sr.s Cardeais...
Excelentíssimos Sr.s Arcebispos e Bispos...
Reverendo Pe. Adolfo Nicolás, Prepósito Geral da Companhia de Jesus; Reverendo Pe. Marcos Recolóns, Assistente Geral para a América do Sul;
Reverendos Reitores dos Pontifícios Colégios...
Reverendos Sacerdotes, Diretores ou representantes das Agências de Ajuda, Reverendas Irmãs,

Comemoramos hoje a memória litúrgica de S. Jerônimo, o grande tradutor da Bíblia e nos reunimos para celebrar a Santa Eucaristia numa ocasião histórica muito importante para o Pontifício Colégio Pio Brasileiro.

É fato bem conhecido que, desde sua fundação, esta benemérita instituição teve à sua frente uma comunidade de Padres e Irmãos jesuítas. Foram eles que acompanharam este Colégio desde sua construção até o dia de hoje.

A história desta Casa divide-se em dois períodos. No primeiro, aqui eram acolhidos seminaristas que vinham a Roma para realizar o curso institucional de Filosofia e Teologia. Eu mesmo, nessa primeira fase, estive entre os que aqui viveram e foram formados. No segundo período, o atual, aqui são recebidos somente os presbíteros que vêm para cursar estudos de pós-graduação, mestrado e doutorado. Nesses dois períodos, muitos foram os sacerdotes beneficiados por esta instituição. Graças a ela, puderam aprofundar e ampliar sua atuação em favor das Igrejas Particulares no Brasil e em outros países da América Latina, da África e até mesmo da Ásia. Grande número de Bispos, atuais e de um passado próximo, se conta entre os estudantes do Pio. Alguns, inclusive, a serviço da Santa Sé, como O Card. João Brás de Avis, Prefeito da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e Sociedades de Vida Apostólica e D. Ilson Montanari, Arcebispo Secretário da Congregação para os Bispos.

Temos muito a agradecer a Deus e à Companhia de Jesus pelos 80 anos de serviços prestados à Igreja por esta instituição. Aproveitamos para dizê-lo agora, uma vez mais, na presença do Prepósito Geral, Pe. Adolfo Nicolás, embora já o tenhamos feito outras vezes. Dirigimos este nosso agradecimento em especial ao Pe. João Roque Rohr e ao Ir. Lauro Eidt, e, na pessoa deles, temos presente o rol de grandes Jesuítas que por aqui passaram e deram sua inestimável colaboração. Talvez seja oportuno mencionar, com especial deferência, D. Luciano Mendes de Almeida, que aqui foi Diretor de Estudos e cujo processo de beatificação foi recentemente aberto na Arquidiocese de Mariana.

Fazer memória agradecida dessa história nos permite viver esta ocasião com a profundidade e o reconhecimento requeridos. Os Jesuítas estão deixando a direção desta Casa. Não sem a resistência e pesar por parte da CNBB, que sempre esteve satisfeita com a Companhia de Jesus e a ela sempre permanecerá grata pelos relevantes serviços recebidos ao longo destas oito décadas. Como uma marca da etapa jesuítica nesta instituição e como penhor de gratidão, decidimos, na última Assembleia Geral dos Bispos do Brasil, associar, no patronato desta Casa, São José de Anchieta ao Sagrado Coração de Jesus. Agradecidos, pedimos a Deus que recompense abundantemente a Companhia de Jesus por todo o bem feito à Igreja no Brasil por meio da direção deste Colégio.

A direção desta Casa passa agora a uma equipe de presbíteros diocesanos: Pe. Geraldo dos Reis Maia, Reitor; Pe. Domingos Barbosa Filho, Diretor de Estudos; Pe. Antonio Reges Brasil, Diretor Espiritual; Pe. Olindo Furlanetto, Ecônomo. Todos eles – e isto foi tomado como critério de escolha – passaram por aqui, e desempenhavam serviços de relevada importância em suas Dioceses. Sabemos que a tarefa é árdua e que os desafios são diversos. Mas sabemos igualmente que os componentes da nova equipe aceitaram o convite por amor à Igreja e por convicção da importância do tempo que muitos sacerdotes vivem aqui a experiência da universalidade da Igreja – pois aqui se encontra o Sucessor de S. Pedro, para cá peregrinam pessoas de todo o mundo e aqui ocorrem eventos entre os mais importantes, como o Sínodo, que nos próximos dias terá início. Não apenas depositamos muita confiança em cada um dos Senhores, mas os acompanhamos com nossas preces e a CNBB continuará próxima e comprometida em cada decisão importante. Agradecemos a suas Dioceses, que, em espírito de Comunhão, permitiram que eles estivessem à disposição da CNBB para essa missão que, de certo modo, envolve toda a Igreja no Brasil.

As Irmãs, Filhas do Amor Divino, que colaboraram com os Jesuítas, vão continuar sua missão aqui no Pio. A elas também queremos manifestar nossa gratidão pelo tanto que já colaboraram e pela disponibilidade a continuar. Também aos colaboradores que trabalham nos mais diversos setores, manifestamos nossa gratidão e reconhecimento.

Do Santo Evangelho, hoje ouvimos a passagem onde fica muito clara a diferença entre a mentalidade dos discípulos e a de Nosso Senhor a respeito do acolhimento ou não do anúncio do Reino de Deus.
Provavelmente quando falaram a respeito do fogo do céu os Apóstolos tinham em mente uma passagem da vida do profeta Elias. Este, vendo os guardas de Ocozias que lhe vinham para levar prisioneiro, invocou o fogo do céu para consumi-los. Jesus, no entanto é de parecer diverso. Sabe que não é com ameaças que se anuncia o Reino de Deus. Isto nos traz à lembrança a célebre lição de Bento XVI na Unversidade de Regensbur. Citando o Imperador Manuel II Paleólogo, o Papa reafirma a convicção de que não é razoável a difusão da fé mediante a violência, porque a violência está em contradição com a natureza de Deus e a natureza da alma. A citação que ele fez de Manuel II é a seguinte: «Deus não se compraz com o sangue; não agir segundo a razão é contrário à natureza de Deus. A fé é fruto da alma, não do corpo. Por conseguinte, quem desejar conduzir alguém à fé tem necessidade da capacidade de falar bem e de raciocinar corretamente, e não da violência nem da ameaça... Para convencer uma alma racional não é necessário dispor do próprio braço, nem de instrumentos para ferir ou de qualquer outro meio com que se possa ameaçar de morte uma pessoa...».
No Evangelho, hoje, Nosso Senhor nos convida a aprender seu modo de anunciar o Reino, na mansidão e com a paciência de Deus. E, aqui nesta casa, os presbíteros vêm para crescer no conhecimento para melhor colaborar na evangelização. A própria finalidade deste instituição está, portanto, correlacionada com a mensagem do santo Evangelho.
Peçamos a Nosso Senhor que esta casa, dedicada à convivência de presbíteros estudantes, seja um ambiente onde se o aprofundamento no conhecimento da fé e da teologia gere também uma convivência presbiteral totalmente pautada pelos valores do Reino e pelo seguimento de Jesus Cristo.

Pelos que concluem e pelos que iniciam a missão de Dirigir esta casa, imploramos de Deus as mais fecundas bênçãos. Pedimos a Jesus Cristo que os guarde em seu Sagrado Coração, a S. José de Anchieta, conhecido entre os Índios como “o padre que voa”, que mantenha em todos a clara convicção de que os estudos aqui realizados pelos presbíteros é também uma importante forma de missão. E a Nossa Senhora Aparecida, a quem junto com o Povo Brasileiro invocamos, como Mãe e Rainha, que os acompanhe, terna e solícita.

Dom Raymundo Cardeal Damasceno Assis
Arcebispo de Aparecida, SP
Presidente da CNBB



 

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