PONTIFICIO COLÉGIO PIO BRASILEIRO
MISSA DA QUARTA-FEIRA DE CINZAS COM ABERTURA DA CFE/2016
Pe. GERALDO DOS REIS MAIA – REITOR
ROMA, 10.02.2016


A Igreja nos chama a percorrer um itinerário de conversão, confiando na infinita misericórdia de nosso Deus. Nossos olhos já vislumbram a madrugada da Páscoa, quando são vencidas as trevas da noite escura da finitude e da fragilidade humana. Marcados com o sinal da penitência, deixamo-nos iluminar pelo fulgor do Espírito que gera em nós renovada esperança. Nossos pés avançam, pressurosos, a acompanhar os passos do Crucificado-Ressuscitado para a nossa salvação.

A Liturgia da Palavra nos inspira a percorrer este longo itinerário. A profecia de Joel conclama o Povo de Deus a voltar-se ao Senhor das misericórdias, ele que “é benigno e compassivo, paciente e cheio de misericórdia, inclinado a perdoar o castigo de todo o coração”. Eis o chamado ao arrependimento visceral, “com jejuns, lágrimas e gemidos”. Não basta “rasgar as vestes”, como previam os rituais. É preciso ir além, “rasgar o coração”, derramar o pranto, envergonhar-se da vida pregressa.

O Salmo 50 canta o arrependimento de quem tomou consciência de seus pecados e confia no poder regenerador que emana do Deus misericordioso. Na imensidão de seu amor, ele nos purifica. Mais do que isso, cria em nós um coração que seja puro, concedendo-nos, de novo, um espírito decidido. Faz-nos criaturas novas, resignificando nossa existência.

No Evangelho, segundo Marcos, encontramos os três alimentos que nos fortalecem neste itinerário quaresmal: a esmola, o jejum e a oração. Mais do que oferta de nossos supérfluos, a esmola é prática de justiça. É devolver ao outro o que lhe é de direito. Tal atitude, motivada pelo sentido mais profundo de amor, só pode ser autêntica se nos deixarmos comover pela situação do outro que nos interpela. A oração é o mergulho na profundidade de Deus, para ouvir seus apelos. O jejum é a experiência da dor do outro, da superação de nossas vaidades e da confiança incondicional ao Pai, que vê o que está oculto e nos socorre em todas as necessidades.

O Apóstolo Paulo, em nome de Jesus Cristo, nos dirige uma súplica: “deixai-vos reconciliar com Deus”. Trata-se de uma exortação a não recebermos em vão a graça de Deus. É este o apelo desta Liturgia e de todo o tempo quaresmal para nosso itinerário de conversão. “É agora o momento favorável, é agora o dia da salvação”. Não o adiemos e nem o deleguemos aos outros! Acolhamos este fecundo deserto em nossas vidas, como tempo de graça, aqui e agora.

A CNBB nos convida para acolher a Campanha da Fraternidade, na sua 52ª edição, que, neste ano, será ecumênica, como já aconteceu em 2000, 2005 e 2010. Estão envolvidas, nesta Campanha, as Igrejas cristãs que fazem parte do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil, o CONIC, e outras instituições ecumênicas. O tema é: “Casa Comum, nossa responsabilidade” e o lema: “Quero ver o direito brotar como fonte e correr a justiça qual riacho que não seca” (Am 5,24). Seu objetivo geral é “assegurar o direito ao saneamento básico para todas as pessoas e emprenharmo-nos, à luz da fé, por políticas públicas e atitudes responsáveis que garantam a integridade e o futuro de nossa Casa Comum”.

Ainda que à distância geográfica dos dramas do Povo de Deus, presente nas periferias de nosso país, somos chamados a fazer comunhão existencial com seus anseios, diante da falta de saneamento básico. O Papa Francisco nos falou de uma “conversão ecológica”, que atinge a todos os seres humanos, no sentido de mudar hábitos pequenos e corriqueiros para cuidar melhor da nossa “casa comum”. Entre nós, como Comunidade Presbiteral, em nosso dia-a-dia, através das pequenas coisas, somos chamados a colocar em prática o versículo da Profecia de Amós: “Quero ver o direito brotar como fonte e correr a justiça qual riacho que não seca”.

Ao iniciarmos este itinerário quaresmal, deixando-nos cobrir com cinza nossas cabeças, manifestando nossa disposição ao chamado à conversão, abramos nossos ouvidos à palavra do Papa Francisco. “Os pobres e a terra estão bradando: Senhor, tomai-nos sob o vosso poder e a vossa luz, para proteger cada vida, para preparar um futuro melhor, para que venha o vosso Reino de justiça, paz, amor e beleza. Louvado sejas! Amém” (LS, 246).


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